domingo, 29 de abril de 2012

   
 
Hoje no Brasil se faz muita confusão sobre o que é funk, muitos ritmos surgem e desaparecem. A indústria cultural de acordo com o interesse do mercado muda nomes e fórmulas de determinadas manifestações artístico-culturais.
A origem do funk se deu nos Estados Unidos, assim com o blues, gospel, jazz e soul surgiram nas comunidades negras. A palavra funk vem do Inglês que quer dizer medo, embaraço pusilânime. James Brown é considerado um dos pais do funk; alguns críticos musicais consideram Michael Jackson e outros cantores negros estadunidenses como expressão deste gênero musical.
Entre nós o funk começa nos anos 1970 em plena ditadura civil-militar durante o movimento da Black Music. Alguns consideram Tim Maia, Jorge Benjor, Sandra de Sá, Gerson King Kombo e outros. Dos precursores do ritmo em terras brasileiras dos anos 1970 ao atual ritmo considerado funk, muita coisa mudou: da influência do Soul à batida de nossos dias, cada vez mais o atual chamado funk demonstra não ter nada haver com a sua origem.
Entre o fim da ditadura civil-militar à volta da democracia burguesa durante os anos 1980 este ritmo musical não tinha ainda muita força e espaço nos grandes veículos de comunicação de massas. Vivia-se o auge do chamado Rock Brasil, consolidava-se o rock brasileiro como expressão da juventude que resistiu à ditadura civil-militar e denunciava as injustiças e os anseios da jovem geração, onde rádios como a Fluminense FM 94,9 na cidade de Niterói, estado do Rio de Janeiro divulgavam, bandas como Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Pleber Rude, Garotos Podres, RPM, Ira, Ultraje a Rigor, Barão Vermelho e outras bandas eram expressão deste momento histórico da sociedade brasileira. Com o avanço do neoliberalismo na passagem dos anos 1980 para 1990 o rock começa a perder alguns espaços na mídia e passa a se restringir a um determinado público específico e se consolida como um nicho de mercado.
A partir do neoliberalismo, o período é marcado pelo pagode mauricinho, pelo breganejo criticado por Lulu Santos por conta do apoio a Collor nas eleições de 1989. Enquanto isso, o funk carioca se espalha pelas comunidades pobres de todo o Rio atingindo até as academias de ginástica da chamada classe média da zona sul do Rio.
As primeiras músicas falavam em amor, amizade e problemas sociais. Quem não se lembra da música do Silva? Hoje este ritmo assim como o cenário da música brasileira apoiada pela grande mídia mudou para pior. Hoje este ritmo do chamado funk carioca, assim como outros gêneros musicais como a música baiana (Axé), passou a explorar a sexualidade e a pornografia, onde o sexo é visto não na forma de prazer responsável e libertário, e sim como objeto a ser consumido de forma irresponsável e vulgar; onde o sexo é praticado na forma do "salve-se quem puder", refletindo uma sociedade alienada nas letras, nos bailes, nas roupas das dançarinas e cantoras do funk, do axé etc. A situação, todos sabem: meninas grávidas precocemente e abandonadas e os meninos pais sem emprego, formação ou vítimas da violência urbana onde crianças crescem sem uma estrutura familiar com todas as possibilidades de reproduzir o eterno ciclo de alienação e miséria em que vegetam.
Hoje o atual funk carioca nada mais é do que alienação e fuga da realidade em que vive a maioria dos jovens das camadas mais pobres da nossa sociedade. Este tipo de música não tem nada de contestador, fazem apologia às drogas, ao papel submisso da mulher, aos grupos milicianos e dos grupos dos soldados do comércio varejista de drogas. Sem falso moralismo ou hipocrisia, este tipo de música não contribui em nada para elevar a consciência das massas exploradas pelo capital.
Estes ritmos são apoiados e incentivados até por lideranças políticas ligadas a burguesia para incentivar a vulgaridade das mulheres que, através da exposição de seus corpos como mercadoria, e sonhando, como as dançarinas do funk, acender socialmente, talvez casar ou engravidar de algum artista, jogador de futebol ou conseguir algum contrato para alguma revista masculina. Na prática, é muito difícil  isso ocorrer porque nem todas poderão ter as mesmas chances - como ocorre na sociedade capitalista - nem todas vão poder dar o "golpe do baú" e se tornar "marias chuteiras" ou amantes de empresários, artistas e etc.
A grande maioria vai se tornar amante de policiais corruptos ou mulher de gerentes do comércio varejista de drogas, e gozar de um poder ilusório até quando a burguesia não precisar mais; muitas destas mulheres vão amargar as prisões ou encontrar a morte.
Não existe uma política cultural voltada para os filhos das classes trabalhadoras. Assistir um bom show de música é muito caro e alguns ritmos musicais antes considerados populares se elitizaram, tornando-se inacessíveis às grandes massas. O poder público, por outro lado, não procura criar condições para tornar acessível e nem democratizar para as grandes massas bens culturais criados pela humanidade. Qual a saída para esses jovens? Ir às casas de shows baratas, com seguranças autoritários - em sua maioria policiais - ser vitima da violência; ir ao baile funk e lá saudar os MC’s totalmente manipulados pelos soldadinhos do comércio varejista de drogas (até porque o grande traficante não estará lá, mas mora nos bairros elegantes da burguesia). Com isto causam a alienação nos nossos jovens, tornando-os domesticados e adaptados ao status quo.
É preciso fazer uma distinção: popular não é popularesco ou lixo. Se fosse assim não teria surgido o chorinho, o samba, o maracatu, o bumba meu boi, o blues, o jazz, o rock, o sertanejo e etc. São incontáveis os artistas populares como Cartola, Nelson Cavaquinho, Gonzaguinha, Luiz Gonzaga, Djavan, Jovelina Pérola Negra, Beatles, Elvis Presley, Black Sabbath, Chuck Berry, Jerry Lewis, The Who, Sex Pistols e tantos outros. Até um palavrão em uma música deve ter um sentido, como faziam os Titãs, Legião Urbana, Ultraje a Rigor. Hoje o palavrão nas músicas do funk carioca não contesta nada, apenas contribui para a alienação.
É necessário resgatar a autêntica cultura popular ligada às massas trabalhadoras, cultura não só para entreter e sim levar à reflexão e conscientização da população através das artes. Devemos buscar uma cultura popular que promova a contra-hegemonia e que coloque as massas em movimento e aponte a necessidade histórica da revolução socialista como a única saída capaz de libertar a população e quebrar esse círculo vicioso em que vivem as massas exploradas pelo capital .

Texto: José Renato André Rodrigues – Professor de Filosofia; membro do Comitê Central do PCB 


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(Imagens e vídeo: por minha conta - Juliano)
Brothers, poderia selecionar essas tirinhas a noite toda....
Piada interna: essa vai para o Jonas...




Xi, brother... 
quando chega nesse ponto....

quarta-feira, 18 de abril de 2012

A linda Senhora



Uma linda Senhora, já bem idosa, morando embaixo do viaduto do metrô, em frente a estação Santana, sempre que eu passava atrasada e apressada, me dava algo lindo que tinha: seu simpático sorriso, deitadinha entre suas coisas.
    Hoje pela manhã, quando estava passando por lá de ônibus, atarantada com minhas preocupações por conta das férias, da possibilidade de adquirir um imóvel ou um automóvel, não vi mais a linda Senhora de cabelinhos brancos como algodão... Em seu lugar estavam homens da prefeitura devidamente uniformizados, colocando em um enorme saco de lixo o pouco de bens materiais que ela possuía.
    Não quero saber se aquela linda Senhora matou um de seus familiares com um machado ou se simplesmente foi abandonada por eles. O que eu mais gostaria - mais do que ter uma casa, um carro e um casal de filhos saudáveis, inteligentes e educados - é que essa dor que eu sinto passasse.
     Não dá para ser feliz enquanto outras pessoas estão tão vulneráveis, não só financeiramente, mas de carinho e amor. Fico me perguntando: por que nunca sentei ali para conversar com aquela Senhora? 
    Talvez seja porque eu estava sempre apressada, correndo atrás de coisas que não me trarão uma felicidade duradoura e verdadeira...
Lene