Olá, resolvi postar o texto abaixo, que é de um professor lá do Ceará, Francisco Djacyr Silva de Souza, porque traduziu em poucos parágrafos as inquietações que estamos sofrendo nos últimos meses. Fazer mestrado? Doutorado? Pós Doutorado? Pesquisas? Publicar livros? Para que? Para quem? Por que? Para nos tornarmos intelectuais e apenas sermos referência bibliográfica para outros aspirantes a intelectuais? Não!
Essa era a causa do nosso desânimo em relação aos estudos! Não queremos ser meros acadêmicos distantes dos sujeitos das pesquisas, da realidade e da luta, isso não! Mas podemos sim ser acadêmicos, pesquisadores etc., que intervenham na realidade do mundo, que contribuam com a equidade, a justiça e o amor! É isso que desejamos!
Perda de tempo e de imaginação
Por Francisco Djacyr Silva de Souza em 21/02/2012 na edição 682 Não consigo entender por que os intelectuais falam tanto do Big Brother Brasil, que é uma essência real de que nossa sociedade está doente, sem educação e completamente aculturada. De que adianta falar, escrever ou discutir se o programa faz tanto sucesso entre as diversas classes sociais no Brasil? Em muitas famílias, a grande discussão não é os rumos da economia, a corrupção desenfreada, nem as crises mundiais, e sim, o tal paredão que lembra assassinato, execução. A pergunta é o que esses intelectuais fazem para mudar a realidade do analfabetismo funcional num país onde temos pessoas letradas, porém ignorantes, em todos os lugares. Por que não se faz uma mobilização real e sem marketing para dificultar o sucesso com bizarrices e idiotices que são comuns na televisão brasileira?
De nada adianta falar, tem que adentrar nas escolas públicas,verificar os contextos da educação, fazer pesquisas reais e não apenas para abiscoitar as bolsas da universidade e das instituições de pesquisa, cujos resultados são pouco aplicados e os pesquisados são apenas objeto de pesquisa, sem envolvimento real nem intervenção na realidade constatada. Vemos em todo país a ignorância de um povo que vota em pessoas processadas pela justiça por roubo e todos sabem que isso deriva, principalmente, da falta de educação política, da falta de cultura da crítica e da reflexão. Infelizmente, nosso intelectuais são burgueses, não têm cheiro de povo nem conhecem a realidade das ruas, dos guetos, do êxodo rural, do favelamento e da violência e têm a função específica de produzir textos que são escritos e publicados sem nenhum questionamento.
Nossas universidades estão produzindo reprodutores de pensamento que apenas compilam teorias e não são originais em suas teses, reflexões e artigos que hoje são exigidos nos cursos de mestrado, doutorado e nas seleções das universidades públicas de nosso país. Os tais grupos de pesquisa são engessamentos que prejudicam a pluralidade de pensamento e os textos sem citações para os intelectuais são apenas textos, sem valor acadêmico. Triste, não?
O difícil é fazer a diferença
A realidade prova que programas como Big Brother farão grande sucesso, sim, pois temos um povo iletrado e com completa falta de intervenção na realidade, pois temos milhões de teóricos e poucos que realmente agem para a mudança. Nossa comunicação prefere figurinhas carimbadas para discutir os assuntos de hoje em dia, mas a realidade é que há pessoas pensando, fazendo cultura, discutindo a vida, lutando por um mundo melhor, mas, infelizmente, sem apoio, sem divulgação, sem reconhecimento acabam desistindo da luta e deixando tudo como está. Claro que haverá grande repercussão do sexo e da desgraça alheia na televisão e nos outros meios de comunicação, pois a má formação de grande parte dos jornalistas coloca uma espécie de viseira em seus olhos que não os deixa ver a realidade – não querem nem podem ser críticos no sentido de dar a notícia que o povo merece. Vivemos um caos de ignorância sem precedentes em que não há produção real inédita, e sim cópia de pensamentos de pessoas que viveram no século passado. Isso é ciência.
A educação perderá sempre para o sexo e para a desgraça, pois para a mídia é sempre melhor expor corpos ensaguentados do que ações de educação para o povo, o que reforça a ignorância e a completa falta de mobilização de nossa sociedade. Sugiro aos intelectuais que, ao invés de escreverem sobre o programa, intervenham na realidade, conheçam a vida nas favelas, apoiem e divulguem projetos eficientes nas escolas públicas e divulguem a boa educação, pois pode ser que através do exemplo alguém do povo se eduque. Sentar no computador e produzir textos é fácil, difícil é fazer a diferença.
***
[Francisco Djacyr Silva de Souza é professor, Fortaleza, CE]
De nada adianta falar, tem que adentrar nas escolas públicas,verificar os contextos da educação, fazer pesquisas reais e não apenas para abiscoitar as bolsas da universidade e das instituições de pesquisa, cujos resultados são pouco aplicados e os pesquisados são apenas objeto de pesquisa, sem envolvimento real nem intervenção na realidade constatada. Vemos em todo país a ignorância de um povo que vota em pessoas processadas pela justiça por roubo e todos sabem que isso deriva, principalmente, da falta de educação política, da falta de cultura da crítica e da reflexão. Infelizmente, nosso intelectuais são burgueses, não têm cheiro de povo nem conhecem a realidade das ruas, dos guetos, do êxodo rural, do favelamento e da violência e têm a função específica de produzir textos que são escritos e publicados sem nenhum questionamento.
Nossas universidades estão produzindo reprodutores de pensamento que apenas compilam teorias e não são originais em suas teses, reflexões e artigos que hoje são exigidos nos cursos de mestrado, doutorado e nas seleções das universidades públicas de nosso país. Os tais grupos de pesquisa são engessamentos que prejudicam a pluralidade de pensamento e os textos sem citações para os intelectuais são apenas textos, sem valor acadêmico. Triste, não?
O difícil é fazer a diferença
A realidade prova que programas como Big Brother farão grande sucesso, sim, pois temos um povo iletrado e com completa falta de intervenção na realidade, pois temos milhões de teóricos e poucos que realmente agem para a mudança. Nossa comunicação prefere figurinhas carimbadas para discutir os assuntos de hoje em dia, mas a realidade é que há pessoas pensando, fazendo cultura, discutindo a vida, lutando por um mundo melhor, mas, infelizmente, sem apoio, sem divulgação, sem reconhecimento acabam desistindo da luta e deixando tudo como está. Claro que haverá grande repercussão do sexo e da desgraça alheia na televisão e nos outros meios de comunicação, pois a má formação de grande parte dos jornalistas coloca uma espécie de viseira em seus olhos que não os deixa ver a realidade – não querem nem podem ser críticos no sentido de dar a notícia que o povo merece. Vivemos um caos de ignorância sem precedentes em que não há produção real inédita, e sim cópia de pensamentos de pessoas que viveram no século passado. Isso é ciência.
A educação perderá sempre para o sexo e para a desgraça, pois para a mídia é sempre melhor expor corpos ensaguentados do que ações de educação para o povo, o que reforça a ignorância e a completa falta de mobilização de nossa sociedade. Sugiro aos intelectuais que, ao invés de escreverem sobre o programa, intervenham na realidade, conheçam a vida nas favelas, apoiem e divulguem projetos eficientes nas escolas públicas e divulguem a boa educação, pois pode ser que através do exemplo alguém do povo se eduque. Sentar no computador e produzir textos é fácil, difícil é fazer a diferença.
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[Francisco Djacyr Silva de Souza é professor, Fortaleza, CE]