quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Vegetarianismo

                      Comer carnes, uma forma de violência

A situação dos animais de consumo nos convida ao vegetarianismo, ou no mínimo a uma reflexão sobre nossos hábitos “carnívoros”.
Se remontarmos, por exemplo, à época de Jesus, o sacrifício de animais era uma desculpa para os homens ingerirem carne, e Jesus contestou o sacrifício de animais a cada passo.
Ele proibiu a venda de animais para sacrifício e o consumo no Templo, instituiu o batismo em lugar do sacrifício dizendo que “Deus requeria piedade, não sacrifício” e eliminou completamente o sacrifício de animais na Última Ceia (refeição vegetariana da Páscoa).
Pensemos um pouco: se matamos ou colaboramos na morte dos seres pagando a outros para que matem por nós, implicitamente estamos apoiando essa forma de violência. Por conseqüência, todas as outras violências ficam mais fáceis.
Há pessoas que dizem: “já está morto, então vou comer...”; de qualquer forma passou a apoiar os que mataram e toda a estrutura que vive desta violência. Há ainda os que acham que estes animais foram criados para isto e que, portanto, tal fato legitima a violência de sua morte. Ora, tal argumento serviria para qualquer morte. Se assim fosse, também poderíamos criar seres humanos para o sacrifício e seriam mortes justificáveis. A raiz desse pensamento é a idéia de que nós, humanos, somos proprietários dos outros seres.
Na realidade, todos os seres estão conosco no mesmo lugar, a Terra. À medida que o homem ganhou consciência, não cabe mais no simples papel de predador; ele se encaminha para ser algo muito maior e esta é a razão da mudança de suas atitudes em evolução.
Milhões de frangos, perus, patos, gansos, bois, peixes, ostras, mexilhões, camarões, lulas, carneiros, cabritos, porcos, codornas, etc., são diariamente mortos sem piedade para atender exigências do mercado das carnes.
Podemos dizer que os seres humanos comem praticamente todos os tipos de animais. Desde camelos e cavalos nos desertos; leões, javalis e elefantes, na África; avestruzes e cangurus, na Oceania; até bichinhos como pacas, tatus, cotias, capivaras, ouriços, gambás, gatos-do-mato, macacos, formigas tanajuras, peixes-boi, botos, peixes-elétricos e muitos outros, devorados no Brasil (a maioria passando por sofrimentos extremos). Animais “estranhos” como cobras e ratos (China); baratas, lagartas, larvas, formigas e gafanhotos (Tailândia) também fazem parte dos incomuns hábitos alimentares da humanidade.
Esse texto é um convite, no mínimo, à reflexão sobre o vegetarianismo.
Nós, seres humanos contemporâneos, temos condições de nos alimentar de outras fontes de proteínas, fibras, gorduras, açúcares e demais nutrientes necessários à manutenção do corpo, bem como temos condições de assumirmos uma postura contrária a essa violência biológica, ecológica, filosófica, econômica e social.
Se existem pessoas que têm problemas em adquirir alimentos, com deficiências em sua nutrição, cuja única forma de alimentar-se provém do consumo de “carne de algo” é uma coisa (que, convenhamos, está mais para uma deficiência sócio-econômica); outra questão somos nós, devidamente esclarecidos sobre questões sublimes do pensamento humano, físico e biológico, contudo ainda apegados a essas formas violentas e ignorantes. E aqui cabe ressaltar: ignorante é aquele que ignora ou desconhece algo, o que não é nosso caso!
Sangrar um animal e queimar sua carne...esse tempo já passou!
Churrasco não é um evento social, nem motivo para comemorar um aniversário; o Natal nada tem a ver com um peru, chester, pernil ou frango morto sobre a mesa!
Um “franguinho”, ou peixe, com sua “carne branca” não é diferente! É carne da mesma forma (obviamente apenas tem menor quantidade de gordura).
A criação de todo e qualquer tipo de animal, seu transporte, abate, beneficiamento de sua carne e derivados é somente mais uma ramificação do capitalismo industrial. Depositarmos nossos recursos nessa máquina injusta e perversa, lubrificada com o sangue de animais é a perpetuação desse massacre genuinamente antiético e capitalista.
A produção de carnes em larga escala é promovida por pecuaristas, suinocultores, granjeiros e piscicultores, em grandes propriedades (latifúndios não são apenas grandes extensões de terras não aproveitadas). Trabalhadores rurais em pequenas propriedades são parceiros deles, contudo dentro daquele parâmetro que todos já sabemos de alguma forma: a exploração. As grandes marcas de produtores de presuntos, lingüiças, carne de frangos e suínos do Oeste catarinense, por exemplo, fazem isso.
Uma mudança de hábitos e de fonte de renda que contemple esses trabalhadores rurais não se dará certamente de forma fácil e simplista. Existe uma questão cultural aqui envolvida, mas a um preço muito alto. Se a agricultura familiar é a melhor saída para combater os latifundiários, a fome e o modelo agroexportador, vejamos os trabalhadores rurais pecuaristas nessa atividade também. Perpetuar essa “cultura carnívora” no meio rural e dos trabalhadores urbanos é pagar um preço muito alto; há muitas questões ambientais e econômicas coletivas envolvidas. Nada, em termos de consumo de carnes e todos os processos envolvidos, deve ser visto em termos de benefício para um grupo: são ônus e prejuízos de todos.
Nos grandes centros urbanos, todas as carnes, invariavelmente, provêm das grandes empresas e dos grandes proprietários. São beneficiadas em escala industrial e massiva. As embalagens e logotipos coloridos e com desenhos/fotos de animais sorridentes, paisagens bonitas e harmoniosas têm apenas um propósito: estimular o consumo e nos deixar com a “consciência leve”!
Já assistiram, por exemplo, Pânico (Scream, EUA, 1996)? Sabem por que as personagens correm desesperadamente? Para viver.
Já viram uma cena de abate bovino ou suíno? Os animais que são abatidos diariamente, acreditem, não são dóceis nessa hora. Apenas estão encurralados em um corredor de 1 metro com uma pessoa obrigando-os por meio de choques elétricos a seguir em frente.

“Carne, s.f. 1. Tecido muscular do homem e dos animais. 2. Parte vermelha dos músculos.
3. Tecido muscular dos animais terrestres, que serve para a alimentação do homem.
4. Natureza humana, do ponto de vista da sensibilidade: A carne é fraca.
5. Consangüinidade. 6. Concupiscência. 7. Polpa comestível dos frutos; mesocarpo.”

Percebem a naturalização dessa violência? Há pouco, constava em dicionários que “negro” era sinônimo de algo essencialmente mau, ou que “branco” era muita coisa - essencialmente as boas. Podemos ainda pensar em termos de uma natural desigualdade dos seres humanos ou uma natural desigualdade entre homens e mulheres? Faz algum sentido hoje, dada nossa condição cultural, social, psicológica ou filosófica? Respondo: não.
Poderia aqui ficar discorrendo sobre muitos aspectos, apresentar dados para os mais teimosos (com citações, referências e fontes), entretanto já “entulhei” todos vocês demais com esse texto. Caso alguém se interesse em mais algumas questões, tenho alguns textos relatando especificidades de abates, condições de “vida” desses animais, cuja existência acaba sendo apenas para o consumo humano; e ainda o melhor: livros e páginas na internet com mais informações e receitas vegetarianas. 
Ah, mais uma coisa: ODIAMOS RODEIO!


Nenhum comentário:

Postar um comentário